Padre Felipe Konzen fala da sucessão papal no Vaticano

Nesta semana, tendo em vista o falecimento do Papa Francisco I, o JNP abre espaço para a manifestação das lideranças católicas locais. Acompanhe as respostas do Padre Felipe Klafke Konzen, da Paróquia Católica São José Operário, aos questionamentos feitos pelo JNP:

1. Como o senhor avalia o legado deixado pelo Papa Francisco para a Igreja e para o mundo?

Na eleição do Papa Francisco, enquanto esperavam para o anúncio oficial do novo Papa, alguns cardeais estavam em uma “sacada”, na Basílica de São Pedro olhando para a multidão que esperava ansiosa a aparição no novo Pontífice. Curiosamente um cardeal, canadense, olhava fixamente para o horizonte, com um semblante de contemplação e seriedade. Sua face foi filmada e, depois da celebração daquele dia, alguns jornalistas perguntaram para ele o que estava olhando e no quê estava pensando. O cardeal respondeu: enquanto esperava a entrada do Santo Padre e sua apresentação para o mundo, olhava para o Coliseu e me perguntava: onde estão os Césares do passado que perseguiam a Igreja? Todos mortos. E, onde está Pedro? Pedro em instantes estará aqui, do meu lado!, respondeu o cardeal.

Com este fato, digo que o legado de todo papa é, em primeiro lugar, o de ter sido sinal da fidelidade de Cristo que disse a Pedro: “Tu és Pedro e, sobre esta pedra, construirei a minha Igreja e as potências do inferno não poderão destruí-la”. O legado do Papa Francisco foi, portanto, em primeiro lugar, o legado da fidelidade ao ministério recebido, o que chamamos de ministério petrino, o de continuar a missão de Pedro, o primeiro Papa.

Em um segundo momento, seu legado foi, penso que principalmente, aquele que ele apresentou em sua primeira exortação apostólica em 24 de novembro de 2013, intitulada Evangelii Gaudium, O Evangelho da Alegria. Nela, o Papa Francisco lançou seu “plano de governo”, o qual buscou viver e, portanto, deixar como legado de seu pontificado. Nesse documento, o Santo Padre destacou a importância da alegria que vem do Evangelho e dizia: “O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada.(…). Este não é o desígnio que Deus tem para nós, esta não é a vida no Espírito que jorra do coração de Cristo ressuscitado”.

Papa Francisco foi o Papa do Jubileu extraordinário da Misericórdia, podemos dizer então que, um terceiro ponto foi o legado da misericórdia, lembrando a Igreja e o mundo do amor infinito de Deus por cada um. Sobre a misericórdia, o Papa dizia: “Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado”.

Por fim, nos deixa como legado a Esperança, quando no ano passado, abria o Jubileu da Esperança, um ano para vivermos a esperança em Deus e dizia: “Na verdade, é o Espírito Santo, com a sua presença perene no caminho da Igreja, que irradia nos crentes a luz da esperança: mantêm-na acesa como uma tocha que nunca se apaga, para dar apoio e vigor à nossa vida. Com efeito a esperança cristã não engana nem desilude, porque está fundada na certeza de que nada e ninguém poderá jamais separar-nos do amor divino.”

2. Qual foi a reação da comunidade católica diante da notícia do falecimento do Papa?

A morte de um papa traz, para todo o católico, um sentimento de orfandade, pois somos uma família e é esse o sentimento primeiro que nos invade. Com relação a nossa comunidade de Nova Petrópolis, foi exatamente esse o sentimento, unido as orações que estamos fazendo em sufrágio pela alma do Santo Padre, todos vivem esses dias como dias de sereno luto, agradecendo ao Bom Deus por sua vida e, ao mesmo tempo, desejosos que ele encontre a misericórdia divina que tanto dispensou.

3. Quais os principais rituais e tradições que a Igreja segue após a morte de um papa?

Conforme anunciou o Vaticano no site Vatican News, a cerimônia segue as indicações estabelecidas no Ordo Exsequiarum Romani Pontificis, documento que rege os ritos funerários do Pontífice Romano.

Traslado para a Basílica de São Pedro

Na quarta-feira, 23 de abril, às 9h (horário local), o corpo do Papa Francisco será trasladado da Capela da Casa Santa Marta até a Basílica de São Pedro. A condução da urna será precedida por um momento de oração, presidido pelo cardeal Kevin Joseph Farrell, camerlengo da Santa Igreja Romana.

A procissão seguirá pela Praça Santa Marta e pela Praça dos Protormártires Romanos, saindo pelo Arco dos Sinos até a Praça São Pedro, entrando em seguida na Basílica Vaticana pela porta central. Diante do Altar da Confissão, o cardeal camerlengo conduzirá a Liturgia da Palavra, após a qual será aberto o período de visitação à urna mortuária do Papa Francisco.

Exéquias e sepultamento

No sábado, 26 de abril, às 10h (horário local), será celebrada a Missa das Exéquias, que marca o primeiro dia do Novendiali (novenário), os nove dias de luto e orações em honra ao Pontífice falecido. A celebração ocorrerá no átrio da Basílica de São Pedro e será presidida pelo cardeal Giovanni Battista Re, decano do Colégio Cardinalício.

Ao final da celebração eucarística, ocorrerão os ritos da Última Commendatio e da Valedictio — despedidas solenes que marcam o encerramento das exéquias. Em seguida, o caixão do Papa será levado novamente para o interior da Basílica de São Pedro e, de lá, transferido para a Basílica de Santa Maria Maior, onde será realizada a cerimônia de sepultamento.

4. Durante o período de “Sede Vacante”, como funciona a administração da Igreja?

Durante o período de “Sede Vacante”, período entre a morte do Pontífice e eleição de um novo Papa, quem assume o governo interino é o Cardeal Camerlengo. O camerlengo, ou camareiro, da Santa Igreja Romana tem o papel fundamental de organizar o processo na vacância da Sé Apostólica, o interregno, entre a morte ou renúncia de um papa e a eleição de outro. É ele o encarregado de destruir o Anel do Pescador e os selos papais a fim de que não seja expedido nenhum documento em nome do Pontífice anterior. Os aposentos papais são selados enquanto transcorre a eleição. É também o camerlengo, assistido pelo mestre das celebrações litúrgicas papais e outros funcionários que certificam a morte do papa. No período de vacância, o camerlengo, auxiliado pelo vice-camerlengo, reúne relatórios dos departamentos da Cúria para que o Colégio dos Cardeais possa administrar os assuntos ordinários da Santa Sé até que um novo papa seja eleito.

5. Há expectativas ou esperanças específicas em relação ao perfil do próximo papa?

Com relação ao novo Papa, acredito que será alguém que dará continuidade ao trabalho de Papa Francisco, uma vez que ele foi responsável por nomear 80% dos cardeais eleitores do próximo conclave. Dos 135 cardeais, 108 foram escolhidos pelo papa falecido, então, entende-se que, possivelmente esse seja um caminho natural de sucessão.

6. De que maneira os fiéis podem viver este momento de luto e oração em comunhão com a Igreja?

De forma concreta, nossa Diocese de Novo Hamburgo se une em oração e no dia 23/04/25, ao meio dia os sinos de todas as igrejas soarão e rezaremos pelo descanso eterno do Santo Padre. Podemos também viver aquilo que o Papa Francisco nos pediu nesse ano do Jubileu da Esperança, que é lucrar indulgências por ele. Lucra-se indulgência plenária por alguém ao: confessar-se e estar em estado de graça, comungar, rezar nas intenções do Santo Padre, fazer alguma obra que lucre a indulgência (obras de misericórdia por exemplo) e repelir o pecado.

7. Que mensagem o senhor deixaria aos católicos neste tempo de transição e renovação na liderança da Igreja?

As palavras que deixo são de dois grandes homens da Igreja de nossos tempos: Papa Bento XVI e São José Maria Escrivá. O primeiro, na sua última audiência geral em 27 de fevereiro de 2013 dizia-nos: “Queridos amigos! Deus guia a sua Igreja; sempre a sustenta mesmo e sobretudo nos momentos difíceis. Nunca percamos esta visão de fé, que é a única visão verdadeira do caminho da Igreja e do mundo. No nosso coração, no coração de cada um de vós, habite sempre a jubilosa certeza de que o Senhor está ao nosso lado, não nos abandona, está perto de nós e nos envolve com o seu amor.” Então, a primeira mensagem que deixo é esta, a da certeza de que é a mão providente do Senhor que conduz todas as coisas.

Depois, recordo São José Maria Escrivá que dizia da eleição de um novo papa, no período em que estamos, de “Sede Vacante”. O santo dizia que enquanto não sabemos qual o Papa que teremos, devemos rezar dizendo: “Não te conheço, mas já te amo.” A segunda mensagem que deixo, portanto, é que nosso amor seja, em primeiro lugar, por Pedro e, depois, por aquele que servirá a Deus, a Igreja e humanidade no ministério petrino.

Envie uma Mensagem

Um email será enviado para o proprietário

Áreas de Cobertura

Nova Petrópolis e Picada Café

Entre em Contato